domingo, 19 de fevereiro de 2012

Motoqueiro Fantasma - Espírito de Vingança

Título: Motoqueiro Fantasma - Espírito de Vingança
Título Original: Ghost Rider: Spirit of Vengeance
Direção: Mark Neveldine e Bryan Taylor 
Roteiro: Scott M. Gimple, Seth Hoffman, David S. Goyer
Gênero: Ação
Duração: 95 Minutos














Nicolas Cage e o primeiro "Ghost Rider" possuem semelhanças: ambos são extremamente criticados, alguns chegam a odiá-los e na grande maioria das vezes são motivo de chacota. Já aqui nesse novo exemplar do badass motoqueiro de cabeça flamejante a relação é muito mais harmoniosa, acertada e gostosa: O filme ajuda Nicolas Cage e Nicolas Cage ajuda o filme. O ator certo, no filme certo e com a direção certa. Mas nem tudo são flores...

A história é simples: nosso querido Diabo (Ciarán Hinds) precisa por as mãos em Danny (Fergus Riordan), filho de Nadya (Violante Placido) concebido através de um pacto feito pela mãe.Visando proteger o garoto, Moreau (Idris Elba) pede a ajuda do amaldiçoado motoqueiro Johnny Blaze (Nicolas Cage) para transportar o menino até um lugar sagrado e seguro e em troca, o libertaria de sua maldição.

Mesmo com um roteiro genérico usado como desculpa para se por em prática as doideiras dos dois diretores, o filme acaba tendo problemas. Furos podem ser engolidos nesse tipo de produção, mas quando passam a beirar o ridículo incomodam. Provando o desleixo dos (TRÊS) escritores, vemos uma cena em que Blaze - possuído por sua maldição - é atingido por um lança granadas e levado inconsciente para um hospital. Mais a frente em uma outra cena, o motoqueiro é atingido por nada menos que um JAVELIM e simplesmente se levanta e anda como se nada tivesse acontecido.

Mesmo assim o filme possui acertos: o tom insano e sarcástico que o filme (mais particularmente seu protagonista) recebe é uma escolha correta que combina com a trama além de sustentar o terreno para seus diretores usarem e abusarem de seus já conhecidos artifícios ("Adrenalina" e "Gamer"). O estilo de direção trazido para esse projeto é uma faca de dois gumes: é um dos grandes diferenciais e qualidade do filme, mas é também onde o mesmo se afunda.

Conhecidos por sua direção frenética e maluca, Neveldine e Taylor usam e abusam de todos os seus recursos, acabando por pecar pelo exagero. Esses exageros visuais e estéticos que funcionam em outros de seus filmes, aqui parecem forçados e foram de tom e por mais impossível que pareça, não parecem orgânicos ao filme. Além de toda pirotecnia e acrobacias que beiram a megalomania (Cage suspenso e rodando violentamente no ar é de uma falta de noção e diversão inacreditável), o que mais incomoda são o abuso de artifícios como Flares (J.J Abrams mandou um abraço) e até mesmo "Dutch Angles" como apenas motivo estético desnecessário, sem acrescentar absolutamente nada a trama. Mas dessa direção diferenciada vem o outro grande ponto do filme: atuação de Nicolas Cage.

Não, ele não está dramaticamente perfeito e foi uma injustiça não indicá-lo ao Oscar, mas quando se faz necessário, o ator tira de seu grande leque seus melhores berros e expressões, chegando a assustar. Utilizar o corpo do ator para a captura de movimentos do motoqueiro foi uma bela ideia: dancinhas e gingadas protagonizadas pelo icônico ator divertem qualquer olho que esteja presenciando tal cena. Se isso não fosse suficiente, como um atormentado Johnny Blaze, Cage berra, se sacode, faz caras e bocas e demonstra uma insanidade digna de um usuário de cocaína e faz sua parceria com os diretores ter sido um dos grandes acertos da Marvel. Com tudo isso, os outros atores que trabalham na projeção passam completamente desapercebidos. Nenhum deles faz um trabalho que mereça destaque - sempre se mantendo na mediocridade - mas também nenhum deles merece o Framboesa de Ouro por suas participações.

No fim, Motoqueiro Fantasma - Espírito de Vingança é como a maldição de seu protagonista: apresenta grandes problemas ao seu espectador, mas diverte em pontuais momentos de sua viagem.

NOTA: 2.5/5

sábado, 18 de fevereiro de 2012

A Invenção de Hugo Cabret

Título: A Invenção de Hugo Cabret
Título Original: Hugo
Direção: Martin Scorsese
Roteiro: John Logan
Gênero: Aventura / Drama
Duração: 126 Minutos














Scorsese filmando em 3D. Scorsese comandando um projeto família que beira o infantil. Talvez o choque seja grande, mas a firmeza e qualidade técnica com a qual o diretor conduz todo o projeto mostra que o Deus vivo do cinema não é facilmente intimidado e deixa clara toda a sua flexibilidade. Pena é que o roteiro não acompanha o ritmo e se perde no meio de duas intenções que acabam não se igualando em qualidade.

O texto adaptado por John Logan a partir do livro "The Invention of Hugo Cabret" conta a história de Hugo Cabret (Asa Butterfield), um órfão que ao perder seu pai (Jude Law) vai morar com seu tio, um bronco bêbado que vive no relógio de uma estação de trem mantendo o mesmo em funcionamento. Os dias de Hugo se resumem em não ser pego e enviado para um orfanato pelo inspetor da estação (Sacha Baron Cohen) enquanto busca peças para tentar consertar um autômato abandonado achado por seu pai em um museu. Em uma de suas buscas, Hugo é pego tentando roubar peças  de uma loja de brinquedos da estação cujo o dono (Ben Kingsley) esconde uma passado que, após conhecer sua sobrinha (Chloë Grace Moretz), Hugo entrará em uma pequena aventura para descobrir.

Forçando um melodrama completamente desnecessário, o roteiro executa rasteiramente todo o drama do protagonista, apelando sempre para situações e diálogos que se esforçam para tirar lágrimas do espectador, mas que sempre soam artificiais e forçados, tirando a chance de que nos emocionemos com as situações apresentadas. Além disso o texto possui problemas com alguns de seus personagens: Isabelle muitas vezes é forçada em suas referências literárias e, principalmente, tentativas de usar um vocabulário mais rebuscado, raramente  provocando risos e o Bibliotecário Monsieur Labisse (Christopher Lee) é jogado, sem profundidade e praticamente nada acrescenta na trama.

Para ajudar o problemático roteiro, Scorsese tem em mãos um bom e seguro elenco que consegue se apresentar - quase por completo - competentemente durante todo o filme. Sim, quase por completo, pois no meio de um sempre monstruoso Ben Kingsley que encarna muito bem seu personagem como um sujeito frustrado e amargo, mas sempre deixando transparecer a tristeza que o consome; uma bela Chloë Moretz muito a vontade (mesmo que o roteiro tente sabotar a personagem) vivendo uma menina agitada, empolgada e sempre fascinada pelas aventuras que passa horas devorando e um Cohen impressionantemente contido e suficientemente engraçado funcionando como alívio cômico, temos Asa Butterfield como um "líder" extremamente problemático.

O menino conduz seu personagem de uma forma extremamente robótica e desconfortável, sendo inexpressivo em boa parte da película e prejudicando ainda mais o melodrama excessivo que se tenta passar, deixando tudo um pouco pior. A coisa se agrava quando ele é posto para interpretar ao lado de Moretz que com seu talento e extremo carisma, acaba por engolir o pobre garoto em cena.

Mas nem tudo é desgraça: Quando passamos para sua verdadeira essência, o filme ganha grande força e poder emocional. Uma bela homenagem ao cinema é mostrada, contando um pouco de sua história, seu começo e apresentando uma defesa ao cinema clássico, uma apelo à necessidade de se cultuar, assistir e preservar os filmes que ficaram pra traz, esquecidos. Justamente evitar esse esquecimento e mostrar a importância de cada projeto não só para seu realizador, mas também para amantes e para a história do cinema. E nada mais justo que um mestre como Scorsese tomar as rédeas de tal projeto.

Scorsese esse que se utiliza maravilhosamente bem do 3D. Esteticamente o filme é lindo. Momentos de vertigem em algumas tomadas aéreas, uma estação de trem nunca tão belamente filmada se utilizando da fumaceira característica para criar uma bela "paisagem" e até mesmo momentos de brincadeiras com o 3D aproximando o rosto dos atores ou enquadrando-os de forma diferente. Sem dúvida alguma um dos melhores exemplares que já foram exibidos e um que vale a pena cada centavo.

Mesmo que peque com sua ingênua e boba história, o filme se beneficia de uma emocionante homenagem ao cinema e seus realizadores e de uma beleza técnica inacreditável, se tornando um projeto gostoso e que merece ser contemplado.

NOTA: 3.5/5