sábado, 18 de fevereiro de 2012

A Invenção de Hugo Cabret

Título: A Invenção de Hugo Cabret
Título Original: Hugo
Direção: Martin Scorsese
Roteiro: John Logan
Gênero: Aventura / Drama
Duração: 126 Minutos














Scorsese filmando em 3D. Scorsese comandando um projeto família que beira o infantil. Talvez o choque seja grande, mas a firmeza e qualidade técnica com a qual o diretor conduz todo o projeto mostra que o Deus vivo do cinema não é facilmente intimidado e deixa clara toda a sua flexibilidade. Pena é que o roteiro não acompanha o ritmo e se perde no meio de duas intenções que acabam não se igualando em qualidade.

O texto adaptado por John Logan a partir do livro "The Invention of Hugo Cabret" conta a história de Hugo Cabret (Asa Butterfield), um órfão que ao perder seu pai (Jude Law) vai morar com seu tio, um bronco bêbado que vive no relógio de uma estação de trem mantendo o mesmo em funcionamento. Os dias de Hugo se resumem em não ser pego e enviado para um orfanato pelo inspetor da estação (Sacha Baron Cohen) enquanto busca peças para tentar consertar um autômato abandonado achado por seu pai em um museu. Em uma de suas buscas, Hugo é pego tentando roubar peças  de uma loja de brinquedos da estação cujo o dono (Ben Kingsley) esconde uma passado que, após conhecer sua sobrinha (Chloë Grace Moretz), Hugo entrará em uma pequena aventura para descobrir.

Forçando um melodrama completamente desnecessário, o roteiro executa rasteiramente todo o drama do protagonista, apelando sempre para situações e diálogos que se esforçam para tirar lágrimas do espectador, mas que sempre soam artificiais e forçados, tirando a chance de que nos emocionemos com as situações apresentadas. Além disso o texto possui problemas com alguns de seus personagens: Isabelle muitas vezes é forçada em suas referências literárias e, principalmente, tentativas de usar um vocabulário mais rebuscado, raramente  provocando risos e o Bibliotecário Monsieur Labisse (Christopher Lee) é jogado, sem profundidade e praticamente nada acrescenta na trama.

Para ajudar o problemático roteiro, Scorsese tem em mãos um bom e seguro elenco que consegue se apresentar - quase por completo - competentemente durante todo o filme. Sim, quase por completo, pois no meio de um sempre monstruoso Ben Kingsley que encarna muito bem seu personagem como um sujeito frustrado e amargo, mas sempre deixando transparecer a tristeza que o consome; uma bela Chloë Moretz muito a vontade (mesmo que o roteiro tente sabotar a personagem) vivendo uma menina agitada, empolgada e sempre fascinada pelas aventuras que passa horas devorando e um Cohen impressionantemente contido e suficientemente engraçado funcionando como alívio cômico, temos Asa Butterfield como um "líder" extremamente problemático.

O menino conduz seu personagem de uma forma extremamente robótica e desconfortável, sendo inexpressivo em boa parte da película e prejudicando ainda mais o melodrama excessivo que se tenta passar, deixando tudo um pouco pior. A coisa se agrava quando ele é posto para interpretar ao lado de Moretz que com seu talento e extremo carisma, acaba por engolir o pobre garoto em cena.

Mas nem tudo é desgraça: Quando passamos para sua verdadeira essência, o filme ganha grande força e poder emocional. Uma bela homenagem ao cinema é mostrada, contando um pouco de sua história, seu começo e apresentando uma defesa ao cinema clássico, uma apelo à necessidade de se cultuar, assistir e preservar os filmes que ficaram pra traz, esquecidos. Justamente evitar esse esquecimento e mostrar a importância de cada projeto não só para seu realizador, mas também para amantes e para a história do cinema. E nada mais justo que um mestre como Scorsese tomar as rédeas de tal projeto.

Scorsese esse que se utiliza maravilhosamente bem do 3D. Esteticamente o filme é lindo. Momentos de vertigem em algumas tomadas aéreas, uma estação de trem nunca tão belamente filmada se utilizando da fumaceira característica para criar uma bela "paisagem" e até mesmo momentos de brincadeiras com o 3D aproximando o rosto dos atores ou enquadrando-os de forma diferente. Sem dúvida alguma um dos melhores exemplares que já foram exibidos e um que vale a pena cada centavo.

Mesmo que peque com sua ingênua e boba história, o filme se beneficia de uma emocionante homenagem ao cinema e seus realizadores e de uma beleza técnica inacreditável, se tornando um projeto gostoso e que merece ser contemplado.

NOTA: 3.5/5

Um comentário:

  1. Oi Allan!
    Finalmente criou o blog! Que bom. xD
    Ainda não vi esse filme, mas pelo trailer pareceu ser bem legal. Vi poucos filmes dirigidos por Scorsese (na verdade acho que só vi Ilha do Medo), mas gostei bastante.
    A Invenão de Hugo Cabret me chamou a atenção pelas imagens do trailer. A história parece ser meio bobinha mesmo e o garotinho não me chamou muito a atenção, mas as poucas cenas mostradas no trailer me fizeram ter vontade de ver.
    Acho que quando o diretor é bom, o filme fica bom também, mesmo que tenha uma história meio fraca. Talvez seja por isso que tenham chamado o Scorsese para dirigi-lo uma vez que, como você disse, o roteiro é bem problemático.
    Adorei a crítica, assim como gosto de todas as que você escreve.

    Bjs
    Gabi Lima

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