terça-feira, 7 de agosto de 2012

O Vingador do Futuro

Título: O Vingador do Futuro
Título Original: Total Recall
Direção: Len Wiseman
Roteiro: Kurt Wimmer e Mark Bomback
Gênero: Ação/Ficção Científica
Duração: 118 Minutos














Algumas polêmicas cercavam esse novo Vingador do Futuro: mais um remake, Colin Farrell no papel que um dia pertenceu a Schwarzenegger e o fato de entregarem na mão de Len Wiseman (diretor da terrível franquia "Anjos da Noite") o remake de um filme dirigido pelo cultuado Paul Verhoeven. Felizmente, tudo ficou apenas em reclamações "pré-filme" e o que vemos na tela é um competente filme de ação que, se perde o carisma e charme de Schwarzenegger, ganha o talento de Colin Farrell.

O roteiro escrito pelos irregulares Kurt Wimmer e Mark Bomback traz a história de Douglas Quaid, um funcionário de uma fábrica que, ao se ver "preso" a uma vida sem graça e monótona, busca os serviços da empresa Rekall, uma empresa que implanta lembranças falsas na memória dos clientes. Algo dá errado e além de precisar fugir por sua vida, Quaid precisa descobrir se o que está vivendo é real ou apenas falsas lembranças.

Quando a primeira cena começou a passar na tela e vi que Len Wiseman resolveu começar seu projeto mostrando Colin Farrell sem camisa e Kate Beckinsale só de calcinha, temi pelo que estava por vir. Sorte foi que, mesmo que não se apresente como um perfeito exemplar de discussão filosófica, o longa tenta não se resumir a isso. Tenta tanto que acaba quase se sabotando ao trazer uma discussão pretensiosa sobre existencialismo que, além de nunca ir a lugar algum e apenas servir como desculpa para a recitação de frases de uma breguice ímpar ("não sei quem eu fui, mas sei quem sou!"), se mostra sempre superficial já que como notamos não há base intelectual dos roteiristas para tal ato.

Quando somos poupados disso, nos é apresentado um texto decente que consegue contar de forma decente uma história que poderia se tornar confusa e, por incrível que pareça, foge de peripécias excessivas demonstrando algum respeito pelo intelecto de seu espectador.  O roteiro também abraça alguns clichês, mas os trabalha de forma competente sem deixar que isso incomode ou prejudique a película.

Pena é que nem tudo são rosas e mesmo que não sejam fatais, alguns furos no roteiro incomodam bastante. Como a mensagem foi guardada no banco se o seu encarregado foi capturado enquanto gravava a mesma? Como um personagem consegue conversar e fazer perguntas para sua gravação já que esta trata-se de uma... gravação? Além desses e outros furos, a trama envolvendo Kate Beckinsale (esposa de Quaid) acaba sendo esquecida em certo momento e é terminada de uma forma tão inorgânica que parece que seus roteiristas realmente esqueceram da personagem até o fim do filme e tiveram que retornar a ela para fechar seu arco.

Como disse anteriormente, grande acerto do novo Vingador do Futuro reside no talento de Colin Farrell. Conhecido por sua cara de choro eterna, o ator consegue encarnar seu personagem muito bem, demonstrando a frustração com sua vida, sua confusão quando a trama começa a se desenrolar e encara as cenas de ação de forma competente, preenchendo todas as lacunas de seu personagem de foma bastante correta, dando espaço até mesmo para que sua cara de sofrido encaixe em certas cenas. Bryan Cranston mesmo com pouco tempo de tela, rouba a cena cada vez que aparece (principalmente em uma cena específica na qual confronta Quaid) mostrando os motivos de ser um de meus atores atuais favoritos. Kate Beckinsale e Jessica Biel estão até confortáveis em seus papéis, mas claramente estão ali por seus rostos bonitos, corpos bem definidos, figurino apertado e armas na mão.

Dito isso, finalmente chegamos à surpresa do projeto: Len Wiseman. Críticado (justamente) por muitos, nesse seu novo filme Wiseman aparece muito mais contido e competente. O diretor consegue usar muito bem o visual (a parte abandonada da cidade é linda), as armas futurísticas, os carros voadores e, em uma cena em específico, a falta de gravidade para criar cenas de ação estilosas. Os movimentos de câmera também trazem uma diferença no filme, como no "falso plano-sequência" que vemos nos trailer e também em outras cenas mais a frente do longa. Wiseman consegue até mesmo criar tensão como vemos na ótima cena em que Quaid se encontra encurralado, confrontado e precisa tomar uma decisão difícil sobre a realidade ou ficção do que está vivendo.

Vingador do Futuro é um bom remake, uma ficção científica decente e tecnicamente muito bem executado. Talvez se não fosse a ausência  do sensacional sotaque de Schwarzenegger, o filme pudesse alcançar outros patamares.


NOTA: 3.5/5



sábado, 4 de agosto de 2012

Ruby Sparks

Título: Ruby Sparks
Título Original: Ruby Sparks
Direção: Jonathan Dayton e Valerie Faris
Roteiro: Zoe Kazan
Gênero: Comédia/Romance
Duração: 104 Minutos














Falar de amor/relacionamentos em Hollywood ficou batido. Salvo algumas exceções, sempre somos apresentados a filmes formulaicos, melosos e superficiais, que se esforçam ao máximo para arrancar suspiros de menininhas através do rosto de um bonito ator e seus atos heroicos para conquistar a passiva amada. Assim sendo, é bom quando vemos na tela uma história mais sutil e que, mesmo embalada em um realismo fantasioso, se mostra mais "pé no chão".

O novo projeto dos diretores de "Pequena Miss Sunshine" conta a história de Calvin (Paul Dano), um jovem e solitário escritor que vem lidando com um bloqueio criativo. Após idealizar, literalmente, a garota de seus sonhos, Calvin passa a escrever sobre a menina que o amaria por quem ele é. O que o jovem novelista não esperava é que o romance de seus sonhos acabaria se tornando real.

É engraçado que, mesmo utilizando alguns dos elementos clichês de filmes românticos, Zoe Kazan ainda consegue escrever um roteiro convincente e interessante, sempre caminhando bem entre o romance e a comédia. Nunca apelando para diálogos extremamente emotivos ou exagerados, Kazan desenvolve o relacionamento entre o casal de protagonistas muito bem, mostrando a paixão e felicidade que domina Calvin a cada dia que passa junto com sua musa, mas que logo se afunda em depressão à medida que a história se desenrola.

O bom trabalho no desenvolvimento do romance entre o casal é muito bom, mas a grande força do roteiro reside em seu "interior" e seus personagens. Utilizando essa capa de fantasia, o texto trata da idealização de uma mulher ou relacionamento. Ruby é inteiramento do jeito que Calvin deseja e seu relacionamento idem, mas, quando a idealização toma vida, voltamos para o mundo real e ela passa a seguir seus próprios passos e tentar tomar controle disso (do jeito divertido e, mais pra frente, caótico do filme) pode acabar tornando tudo pior.

No campo de personagens somos expostos a figuras interessantes. Temos o clichê humano ambulante que é o irmão de Calvin vivido por Chris Messina, a exótica mãe do protagonista interpretada pela querida Annette Bening e o divertido padrasto de Calvin incorporado por Antonio Banderas. Além deles, Calvin é o escritor solitário, enrustidamente egocêntrico, controlador (ponto importante para a história) e atormentado pelo precoce sucesso, a falta de um "verdadeiro amor" e a situação que a vida o coloca quando o tão sonhado relacionamento chega. Até que chegamos a ela...

Ruby Sparks. A bela Ruby Sparks vivida muito bem por Zoe Kazan, com seus hipnotizantes olhos azuis, lindos e desarrumados cabelos ruivos e um belo corpo magro que sustenta o redondo e delicado rosto da menina. Sparks é, por mais amarras que a prenda, livre, divertida, meiga, estranhamente sedutora e seguramente louca. Uma mulher que realmente só poderia ter sido idealizada pela mente de um solitário e deslocado rapaz. Impossível não se apaixonar.

Conduzindo isso tudo, Jonathan Dayton e Valerie Faris fazem um bom trabalho ao apostarem em planos simples, deixando que a história tome conta do filme, e não exageros que não encaixariam no projeto. Os diretores também conseguem carregar o ritmo do longa muito bem, principalmente quando precisam o tirar do clima leve e descontraído que vinham adotando e jogá-lo em um tom quase sombrio.

Trazendo uma deliciosa e apaixonante história, Ruby Sparks, além da mulher dos sonhos de muitos, é também um belo filme que trata da busca pelo amor verdadeiro, a idealização de um romance e de uma mente solitária, controladora e conturbada que sente um buraco dentro de si. Ruby Sparks também tenta mostrar que na vida e, aparentemente, também no amor, as vezes é necessário se libertar e recomeçar.


NOTA: 4/5