terça-feira, 7 de agosto de 2012

O Vingador do Futuro

Título: O Vingador do Futuro
Título Original: Total Recall
Direção: Len Wiseman
Roteiro: Kurt Wimmer e Mark Bomback
Gênero: Ação/Ficção Científica
Duração: 118 Minutos














Algumas polêmicas cercavam esse novo Vingador do Futuro: mais um remake, Colin Farrell no papel que um dia pertenceu a Schwarzenegger e o fato de entregarem na mão de Len Wiseman (diretor da terrível franquia "Anjos da Noite") o remake de um filme dirigido pelo cultuado Paul Verhoeven. Felizmente, tudo ficou apenas em reclamações "pré-filme" e o que vemos na tela é um competente filme de ação que, se perde o carisma e charme de Schwarzenegger, ganha o talento de Colin Farrell.

O roteiro escrito pelos irregulares Kurt Wimmer e Mark Bomback traz a história de Douglas Quaid, um funcionário de uma fábrica que, ao se ver "preso" a uma vida sem graça e monótona, busca os serviços da empresa Rekall, uma empresa que implanta lembranças falsas na memória dos clientes. Algo dá errado e além de precisar fugir por sua vida, Quaid precisa descobrir se o que está vivendo é real ou apenas falsas lembranças.

Quando a primeira cena começou a passar na tela e vi que Len Wiseman resolveu começar seu projeto mostrando Colin Farrell sem camisa e Kate Beckinsale só de calcinha, temi pelo que estava por vir. Sorte foi que, mesmo que não se apresente como um perfeito exemplar de discussão filosófica, o longa tenta não se resumir a isso. Tenta tanto que acaba quase se sabotando ao trazer uma discussão pretensiosa sobre existencialismo que, além de nunca ir a lugar algum e apenas servir como desculpa para a recitação de frases de uma breguice ímpar ("não sei quem eu fui, mas sei quem sou!"), se mostra sempre superficial já que como notamos não há base intelectual dos roteiristas para tal ato.

Quando somos poupados disso, nos é apresentado um texto decente que consegue contar de forma decente uma história que poderia se tornar confusa e, por incrível que pareça, foge de peripécias excessivas demonstrando algum respeito pelo intelecto de seu espectador.  O roteiro também abraça alguns clichês, mas os trabalha de forma competente sem deixar que isso incomode ou prejudique a película.

Pena é que nem tudo são rosas e mesmo que não sejam fatais, alguns furos no roteiro incomodam bastante. Como a mensagem foi guardada no banco se o seu encarregado foi capturado enquanto gravava a mesma? Como um personagem consegue conversar e fazer perguntas para sua gravação já que esta trata-se de uma... gravação? Além desses e outros furos, a trama envolvendo Kate Beckinsale (esposa de Quaid) acaba sendo esquecida em certo momento e é terminada de uma forma tão inorgânica que parece que seus roteiristas realmente esqueceram da personagem até o fim do filme e tiveram que retornar a ela para fechar seu arco.

Como disse anteriormente, grande acerto do novo Vingador do Futuro reside no talento de Colin Farrell. Conhecido por sua cara de choro eterna, o ator consegue encarnar seu personagem muito bem, demonstrando a frustração com sua vida, sua confusão quando a trama começa a se desenrolar e encara as cenas de ação de forma competente, preenchendo todas as lacunas de seu personagem de foma bastante correta, dando espaço até mesmo para que sua cara de sofrido encaixe em certas cenas. Bryan Cranston mesmo com pouco tempo de tela, rouba a cena cada vez que aparece (principalmente em uma cena específica na qual confronta Quaid) mostrando os motivos de ser um de meus atores atuais favoritos. Kate Beckinsale e Jessica Biel estão até confortáveis em seus papéis, mas claramente estão ali por seus rostos bonitos, corpos bem definidos, figurino apertado e armas na mão.

Dito isso, finalmente chegamos à surpresa do projeto: Len Wiseman. Críticado (justamente) por muitos, nesse seu novo filme Wiseman aparece muito mais contido e competente. O diretor consegue usar muito bem o visual (a parte abandonada da cidade é linda), as armas futurísticas, os carros voadores e, em uma cena em específico, a falta de gravidade para criar cenas de ação estilosas. Os movimentos de câmera também trazem uma diferença no filme, como no "falso plano-sequência" que vemos nos trailer e também em outras cenas mais a frente do longa. Wiseman consegue até mesmo criar tensão como vemos na ótima cena em que Quaid se encontra encurralado, confrontado e precisa tomar uma decisão difícil sobre a realidade ou ficção do que está vivendo.

Vingador do Futuro é um bom remake, uma ficção científica decente e tecnicamente muito bem executado. Talvez se não fosse a ausência  do sensacional sotaque de Schwarzenegger, o filme pudesse alcançar outros patamares.


NOTA: 3.5/5



sábado, 4 de agosto de 2012

Ruby Sparks

Título: Ruby Sparks
Título Original: Ruby Sparks
Direção: Jonathan Dayton e Valerie Faris
Roteiro: Zoe Kazan
Gênero: Comédia/Romance
Duração: 104 Minutos














Falar de amor/relacionamentos em Hollywood ficou batido. Salvo algumas exceções, sempre somos apresentados a filmes formulaicos, melosos e superficiais, que se esforçam ao máximo para arrancar suspiros de menininhas através do rosto de um bonito ator e seus atos heroicos para conquistar a passiva amada. Assim sendo, é bom quando vemos na tela uma história mais sutil e que, mesmo embalada em um realismo fantasioso, se mostra mais "pé no chão".

O novo projeto dos diretores de "Pequena Miss Sunshine" conta a história de Calvin (Paul Dano), um jovem e solitário escritor que vem lidando com um bloqueio criativo. Após idealizar, literalmente, a garota de seus sonhos, Calvin passa a escrever sobre a menina que o amaria por quem ele é. O que o jovem novelista não esperava é que o romance de seus sonhos acabaria se tornando real.

É engraçado que, mesmo utilizando alguns dos elementos clichês de filmes românticos, Zoe Kazan ainda consegue escrever um roteiro convincente e interessante, sempre caminhando bem entre o romance e a comédia. Nunca apelando para diálogos extremamente emotivos ou exagerados, Kazan desenvolve o relacionamento entre o casal de protagonistas muito bem, mostrando a paixão e felicidade que domina Calvin a cada dia que passa junto com sua musa, mas que logo se afunda em depressão à medida que a história se desenrola.

O bom trabalho no desenvolvimento do romance entre o casal é muito bom, mas a grande força do roteiro reside em seu "interior" e seus personagens. Utilizando essa capa de fantasia, o texto trata da idealização de uma mulher ou relacionamento. Ruby é inteiramento do jeito que Calvin deseja e seu relacionamento idem, mas, quando a idealização toma vida, voltamos para o mundo real e ela passa a seguir seus próprios passos e tentar tomar controle disso (do jeito divertido e, mais pra frente, caótico do filme) pode acabar tornando tudo pior.

No campo de personagens somos expostos a figuras interessantes. Temos o clichê humano ambulante que é o irmão de Calvin vivido por Chris Messina, a exótica mãe do protagonista interpretada pela querida Annette Bening e o divertido padrasto de Calvin incorporado por Antonio Banderas. Além deles, Calvin é o escritor solitário, enrustidamente egocêntrico, controlador (ponto importante para a história) e atormentado pelo precoce sucesso, a falta de um "verdadeiro amor" e a situação que a vida o coloca quando o tão sonhado relacionamento chega. Até que chegamos a ela...

Ruby Sparks. A bela Ruby Sparks vivida muito bem por Zoe Kazan, com seus hipnotizantes olhos azuis, lindos e desarrumados cabelos ruivos e um belo corpo magro que sustenta o redondo e delicado rosto da menina. Sparks é, por mais amarras que a prenda, livre, divertida, meiga, estranhamente sedutora e seguramente louca. Uma mulher que realmente só poderia ter sido idealizada pela mente de um solitário e deslocado rapaz. Impossível não se apaixonar.

Conduzindo isso tudo, Jonathan Dayton e Valerie Faris fazem um bom trabalho ao apostarem em planos simples, deixando que a história tome conta do filme, e não exageros que não encaixariam no projeto. Os diretores também conseguem carregar o ritmo do longa muito bem, principalmente quando precisam o tirar do clima leve e descontraído que vinham adotando e jogá-lo em um tom quase sombrio.

Trazendo uma deliciosa e apaixonante história, Ruby Sparks, além da mulher dos sonhos de muitos, é também um belo filme que trata da busca pelo amor verdadeiro, a idealização de um romance e de uma mente solitária, controladora e conturbada que sente um buraco dentro de si. Ruby Sparks também tenta mostrar que na vida e, aparentemente, também no amor, as vezes é necessário se libertar e recomeçar.


NOTA: 4/5

terça-feira, 26 de junho de 2012

Valente

Título: Brave
Título Original: Valente
Direção: Mark Andrews, Brenda Chapman e Steve Purcell
Roteiro: Mark Andrews, Brenda Chapman, Steve Purcell e Irene Mecchi
Gênero: Animação/Fantasia/Aventura
Duração: 100 Minutos













Os estúdios Pixar sempre tiveram um currículo impecável. Originalidade, extrema qualidade e coração sempre foram ingredientes presentes em todas as suas produções que sempre cativaram tanto crítica quanto público, fato que acabou por mudar com a chegada de "Carros 2". A mediocridade atingida pelo filme manchou levemente o currículo da empresa, provocou decepção e despertou um sentimento de dúvida na cabeça do público. Com esse seu novo projeto a Pixar se levanta, tira a poeira dos ombros e, mesmo que não reviva a qualidade de seus clássicos, foge da média e volta a se colocar acima de suas concorrentes.

"Brave" conta a história de Merida, princesa do reino de DunBroch. Quando sua mãe decide por arranjar uma competição por sua mão envolvendo três herdeiros do trono de reinos vizinhos, Merida se revolta contra sua progenitora e decide por partir em busca de seu próprio destino. O que a princesa não sabia é que essa busca colocaria essa menininha muito louca no meio de altas confusões.

Em seus personagens e as interações entre eles mora a grande força do longa. Tudo é construído de forma fluída, estabelecendo o terreno para que as situações futuras se desenrolem sem parecerem forçadas. A personalidade controladora da rainha e a vontade de liberdade e desprendimento da princesa provocam conflitos que atenuam a falta de comunicação entre as duas, falta de comunicação essa que é apresentada em uma bela cena na qual vemos ambas as personagens desabafando seus argumentos, mas não em um diálogo direto entre elas. Mais a frente, após a grande virada da trama, ocorre uma reversão de papéis, onde um processo de aprendizado passa a ser o protagonista do longa e a interação entre as duas muda para melhor, mesmo com todas as dificuldades da situação.

Como foco cômico, temos os pequenos trigêmeos irmãos de Merida. Sem precisar de uma única fala, os pequenos ruivinhos provocam risadas a cada passo, careta ou "travessura" que fazem, e capturam a simpatia da plateia imediatamente. O trio é responsável pelas melhores sequências do filme e trazem um espírito de "O Pimentinha" para o projeto que sustenta muito bem todo o tom humorístico já característico das produções Pixar.

Bom também é notar como a Disney continua a colocar personagens femininas fortes em suas produções. Começando com Merida e sua atitude quase revolucionária e libertadora, até chegar a Rainha Elinor. Elinor possui controle completo sobre seu reino e rei, sendo a mente líder e controladora do trono, deixando para o rei apenas a posição de imagem de liderança e força bruta.

Usando para embalar tudo de uma forma extremamente competente, a Pixar mais uma vez se supera no quesito técnico. É impressionante como as expressões dão vida aos personagens, a movimentação na tela é fluída e os cenários mostrados são, em grande parte das vezes, praticamente reais, enchendo os olhos de qualquer um.

Divertido, engraçado e com uma profundidade emocional bastante agradável, Brave é a redenção da Pixar que, mesmo que não se equipare aos geniais projetos antecessores da empresa, mostra que a força da mesma continua maior que a de suas concorrentes.

P.S: O curta "La Luna" é realmente lindo.


NOTA: 4/5

sábado, 23 de junho de 2012

Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros

Título: Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros
Título Original: Abraham Lincoln: Vampire Hunter
Direção: Timur Bekmambetov
Roteiro: Seth Grahame-Smith
Gênero: Ação/Fantasia/Terror
Duração: 105 Minutos














Imagine um filme dirigido por Zack Snyder. Agora imagine que esse Zack Snyder é uma cópia descarada e sem talento de si mesmo, que se utiliza de técnicas estéticas completamente desnecessárias para preencher artificialmente seu projeto. Por último, imagine que esse Snyder "wannabe", com apenas um filme de grande reconhecimento em seu currículo, seja considerado um visionário e, infelizmente, acredite nisso. Se você tem essa imagem em sua cabeça, já imagina que tipo de onanismo cinematográfico deva esperar, mas, como diz a frase mais clichezenta da história: nada é tão ruim que não possa piorar.

No roteiro escrito por Seth Grahame-Smith (autor do livro que deu origem ao filme), somos primeira apresentados ao icônico Abraham Lincoln (Benjamin Walker) já ostentando sua bela barba enquanto escreve em seu diário. A partir daí somos jogados para o passado, onde conheceremos as situações vividas pelo senhor presidente desde sua infância, passando - e ficando por boa parte da projeção - por sua adolescência e finalmente chegando aos seus dias como presidente of US and A.
Em sua adolescência somos apresentados aos personagens "importantes" da trama como a bela Monica Lewinsky Mary Todd (Mary Elizabeth Winstead), interesse romântico do jovem Lincoln. Também nos é mostrado a volta de Will Johnson (Anthony Mackie), amigo negro de infância que volta a para encontrar com seu velho companheiro. Por último (que foi apresentado primeiro mas eu escrevo na ordem que eu quiser), temos Henry Sturgess (Dominic Cooper), que depois de salvar a vida de Abraham, decide por transformá-lo em um caça-vampiros.

Com furos desde de seu início, o texto de Grahame-Smith é chafurdado em situações absurdas e clichês que vão desde "afeição pessoal que é utilizada para ferir o protagonista" até "romance dificultado pela vigilância noturna do protagonista. Os diálogos são recheados de frases de efeito que são pronunciadas como se tivessem sido escritas por Nietzsche. Todas as falas podem ser comparadas àquele seu amigo burro que você tem adicionado no Facebook: na tentativa de se mostrar inteligente, escreve e posta frases que provavelmente envolvem as palavras "amor", "liberdade" e uma possível metáfora imbecil com pássaros, provavelmente se enchendo de orgulho e dando um sinal de aprovação para sua própria baboseira.

Os personagens do filme são completamente descartáveis, mostrando uma preguiça quase ofensiva do roteirista. Mary Todd aparece como apenas um possível interesse romântico proibido de Lincoln, já que a moça é noiva do clássico "político arrogante que toma chifre da mulher". O interessante é que, após o segundo encontro entre os dois, nos é mostrado um pedido de casamento e, logo após, a cerimônia, sem que nunca nos fosse explicado o que aconteceu com o antigo noivo de Mary, como se o mesmo tivesse simplesmente sumido do planeta.
Tão imbecil quanto é o desenvolvimento do personagem vivido por Dominic Cooper. Henry é dono da "grande" reviravolta da trama, reviravolta essa completamente previsível e nada sutil. O personagem também apresenta um passado e motivação para suas ações donos de uma falta de originalidade dignas de dar inveja a qualquer dono de site de humor.

Somando-se negativamente a tudo isso, temos os péssimos trabalhos dos atores comandados por Bekmambetov. Benjamin Walker (Liam Neeson em sua juventude e caso não tivesse nem um pingo de talento) encarna um Lincoln completamente inexpressivo e completamente sem presença de cena alguma, se preocupando apenas em fazer caras e bocas durante as cenas de ação. Dominic Cooper, também estragado pela escrita de seu papel, em momento algum transparece o sofrimento de seu personagem, e também é dono de uma inexpressividade Kristen Stewartiana. Por final, temos Elizabeth Winstead que só se preocupa em estar em cena e exibir seu bonito rosto.

É interessante também notar como o personagem de Abraham Lincoln é um reflexo de seu diretor. Ao dilacerar as criaturas da noite, o protagonista gira seu machado, dá golpes no ar, pula em paredes e dá piruetas para arrancar cabeças, o que pode servir de exemplo perfeito da direção "overestilosa" de Bekmambetov. O diretor abusa de câmeras lentas, coreografias acrobáticas, cortes rápidos e confusos e até mesmo pequenos flocos de poeira ou pontos de fogo que ficam flutuando pela tela, distraindo e até mesmo irritando o espectador. Bekmambetov também se utiliza de formas patéticas para dar sustos. Incompetente para usar uma atmosfera escura e habitada por criaturas monstruosas, o diretor aposta em rostos feios voando na direção da platéia, utilizando o 3D de uma forma baixa e para esconder a própria inabilidade.

Apelando para uma megalomania visual, Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros é um filme quebrado, sem conteúdo e dono de uma prepotência que o afunda a cada minuto de projeção. Se isso é ser visionário para Hollywood, Timur Bekmambetov sem dúvida alguma é um.


NOTA: 1,5/5


terça-feira, 20 de março de 2012

Protegendo o Inimigo

Título: Protegendo o Inimigo
Título Original: Safe House
Direção: Daniel Spinosa
Roteiro: David Guggenheim
Gênero: Ação
Duração: 115 Minutos














Realmente parece que o desleixo chegou para ficar na terra do cinema. Juntam um elenco talentoso e de faces conhecidas, um rostinho bonito e um corpo gostoso pra liderá-los, uma reviravolta antecedida de muita velocidade, tiros e explosões e acham que é o suficiente para se entregar um projeto minimamente decente. Queridos, tudo isso tem o potencial para dar certo mas, quando entregue em mãos extremamente incompetentes, todo esse potencial é desperdiçado e somos agraciados mais uma vez com a mediocridade das produções hollywoodianas.

A trama conta a história de Matt Weston (Ryan Reynolds), um jovem agente da CIA encarregado de cuidar de uma instalação de segurança na África do Sul. Um belo dia Weston é surpreendido pela notícia de que um criminoso de alto calibre será transferido para ficar sob seus cuidados. Ao receber seu "convidado" o jovem descobre que se trata de Tobin Frost (Denzel Washington), um perigoso ex-agente que agora ganha a vida traindo seu país vendendo informações de inteligência para estrangeiros. Quando a instalação é atacada, Weston precisa transferir Frost sozinho, embarcando em altas confusões (alô globo me contrata).

Nada justifica a estupidez e o quão genérico o roteiro é. O personagem de Reynold nos é apresentado como um mero guarda (um "zelador" como ele é chamado) da instalação, um inteligente e eficiente "homem de escritório" com uma boa formação acadêmica, mas nunca um agente de campo altamente treinado para ser o novo Jason Bourne. Dito isso, chega ser ofensivo como o texto tenta sempre empurrar goela abaixo certas situações. Do início ao fim da projeção, Weston se mostra extremamente hábil ao dirigir um carro em alta velocidade, lutar e até mesmo manejar um arma, não exitando nem tremendo em momento algum, demonstrando uma frieza e destreza inverossímil para um "agente" de seu porte. Não satisfeito, o roteirista tenta nos forçar a acreditar que, ao transportar um criminoso extremamente perigoso e treinado, o jovem o faria colocando seu inimigo no porta-malas de um carro onde nenhum de seus movimentos pode ser visto e, alguns momentos depois, o deixaria controlar o carro no qual ambos seguem para outro esconderijo, permitindo a Frost um controle maior ainda da situação e até mesmo a possibilidade de uma fuga.

Como todo bom filme medíocre, raso e sem qualquer lapso de originalidade, o roteiro de Protegendo o Inimigo tenta se sustentar em dois artifícios: uma reviravolta sem graça e um final supostamente bom e empolgante, tentando agradar o publico no final da sessão e fazê-lo esquecer toda baboseira a qual foram submetidos durante quase duas horas. O problema é que se sozinhos esses dois artifícios já são de uma baixaria reprovável, é torturante quando essa reviravolta se mostra extremamente previsível e manjada e o final é tolo e igualmente sem inspiração.

Pra piorar essa situação desagradável temos a bagunça completa que é a direção de Daniel Spinosa. Já começando a demonstrar sua necessidade de tentar inventar e complicar as coisas na sequência de abertura, o diretor não consegue conduzir UMA cena com o impacto emocional necessário, fazendo com que seu timing e falta de habilidade prejudique alguns momentos das boas atuações presentes em seu filme.

ai meu deus que Bom seria se esse fosse o maior problema da condução do filme, mas a desgraça não termina por aí. Spinosa demonstra ter a habilidade de um portador de Parkinson (beijo J.Fox) com a câmera na mão. Além de não saber onde posicionar seu equipamento, o diretor não sabe controlá-lo de forma decente, filmando as cenas com um irritante tremelique constante que, juntamente com sua falha tática de filmar em planos fechados e a nauseante mania de aplicar muitos e rápidos cortes, estragam as cenas de ação que poderiam salvar o filme, tornando-as confusas e enfurecedoras já que o espectador não consegue ver o que está acontecendo na sua frente. Spinosa também investe em movimentos de câmera estranhos, incômodos e desnecessários, comprovando que tenta imprimir uma direção frenética mas só consegue provocar algumas dores de cabeça.

Mesmo com tudo isso eu seria injusto se não citasse a única coisa boa que o diretor traz para o filme: sua direção de atores. Tudo bem, ele tem nas mãos um talentoso elenco que não necessita muito esforço para ser coordenado, mas não seria correto deixar que passe desapercebido o bom trabalho que Spinosa faz nesse sentido. Correndo por fora temos Vera Farmiga e Brendan Gleeson que, vivendo personagens completamente unidimensionais e com uma importância completamente forçada na trama, atuam no piloto automático, sem muito esforço, fazendo o suficiente para não comprometer mais ainda as cenas em que aparecem. Liderando com seu talento e presença já demonstrados em outras oportunidades, temos um Denzel Washington extremamente confortável e encarnando muito bem seu Tobin Frost como um homem durão, calado e imponente, mas que também é machucado, dando uma realidade necessária a seu personagem. Ao seu lado temos Ryan Reynolds que, com uma atuação instável, reveza entre a inexpressividade e uma boa atuação, principalmente ao retratar o nervosismo e/ou dor de seu personagem em algumas situações. Mesmo assim é claramente notável como Denzel engole Reynolds sem cerimônia nas cenas em que contracenam juntos.

No fim, Protegendo o Inimigo é realmente apenas isso: um roteiro capenga e sem originalidade e uma direção pífia que beirando o patético, estragam as fortes atuações de seus protagonistas.



NOTA: 2/5

sexta-feira, 16 de março de 2012

Projeto X - Uma Festa Fora de Controle

Título: Projeto X - Uma Festa Fora de Controle
Título Original: Project X
Direção: Nima Nourizadeh
Roteiro: Matt Drake, Michael Bacall
Gênero: Comédia
Duração: 87 Minutos















Mais um fruto da febre de Mockumentaries, Projeto X tenta levar os filmes de adolescente a um outro nível quase catastrófico. Mesmo com cenas divertidas aqui e pares de peitos ali, o filme escorrega. E escorrega feio, transformando uma viagem que poderia ser extremamente proveitosa em algo muito mais problemático e incômodo que um anão no forno.

A história, como já é de se esperar, é simples: Thomas (Thomas Mann) é um quieto garoto que reside no subúrbio de uma cidade da Califórnia. Quando seus pais saem em uma viagem para comemorar o aniversário de casamento, seus amigos Costa (Oliver Cooper) e JB (Jonathan Brown) o convencem de dar um grande festa em sua casa para mudar os status dos três amigos perante seus colegas de escola. Tendo sido planejada como grande, a festa sai do controle dos rapazes e se torna um verdadeiro caos nunca antes registrado.

É interessante reparar como o filme e sua história seguem o mesmo rumo. A projeção começa bem, apresentando seu clima despretensioso enquanto introduz seus caricatos personagens com algumas cenas divertidas, mas sai do controle no meio do caminho tanto em roteiro quanto em direção, transformando suas piadas já pouco engraçadas e desnecessariamente "agressivas" em algo completamente gratuito e forçado, estragando a possibilidade de alguns risos que pudessem ser mostrados em pontuais momentos da película. Ainda nesse mérito, chega a ser agoniante perceber como os roteiristas tentam praticamente arrancar as risadas para fora do expectador durante todo o longa, fazendo com que o tiro saísse pela culatra sem que percebessem.

Mesmo assim um dos dois grandes defeitos do filme reside em seus personagens: desenhos unidimensionais que deram certo em alguns outros projetos, o trio que já vimos em outras melhores oportunidades está de volta em Projeto X: o nerd caladão e tímido que nutre uma paixão secreta pela amiga e acaba se dando bem com a gostosona da escola, o amigo tarado que acha que entende tudo sobre sexo e está sempre tentando se dar bem e o gordinho nerdão que aparenta ter algum tipo de retardo mental e serve como o bobo da corte do trio. Como um estranho no grupo surge Dax (Dax Flame), um dos personagens mais descartáveis, desinteressantes e forçados que já vi nos últimos tempos que ser apenas para ser o encarregado de filmas as estripulias dos três amigos. Além de tudo isso as adições ao longo da projeção não funcionam e são completamente exaustivas e entediantes. Os dois "seguranças" mirins da festa ganham toda uma sem graça trama paralela que, além de desnecessária, é completamente inverossímil (ninguém contraria duas crianças daquelas para serem seguranças de uma festa gigante e em lugar nenhum duas crianças estariam presentes naquele tipo de festa ou vagando pela rua tarde da noite), sem contar os furos de roteiro que esses personagens acrescentam ao já furado script. O anão que simplesmente surge no meio do caos já instalado além de uma outra repetição do que já se viu antes - mostrando a falta de originalidade da produção - é parte da tentativa de arrancar risos forçadamente antes citada, não funcionando em momento algum.

Comandando tudo isso temos o diretor Nima Nourizadeh que em momento algum faz sequer um pequeno esforço pra tentar melhorar as coisas. Claramente apenas saciando uma tremenda vontade de filmar belos pares de peitos balançando e deliciosas bundas (Não que eu esteja reclamando, claro), Nourizadeh até começa o filme firmemente, mas simplesmente mostra uma tremenda incompetência - assim como aconteceu com Josh Trank em "Poder sem Limites" - ao trabalhar com Mockumentary. O diretor simplesmente esquece que estilo está trabalhando e começa a filmar cenas que não são feitas no estilo câmera na mão, atingindo o auge do constrangedor ao transformar a cena do final da apoteótica festa em um grande clipe da música da banda Metallica. A cena até funciona, mas estamos falando de cinema, de um Mockumentary e não de um clipe musical, o que parece não passar na cabeça do diretor em determinados momentos de seu trabalho.


Prometendo muito mais do que entrega, Projeto X é exatamente como a festa que o protagoniza: divertido pontualmente, recheado de mulheres maravilhosas mostrando tudo que possuem de melhor e empolgante para alguns, mas seus realizadores perdem o controle e acabam deixando tudo se tornar mais problemático do que planejaram que seria.

Obs: a trilha sonora é inacreditavelmente boa, roubando a cena de toda a projeção e superando muito o filme em qualidade. Compre o CD, escute em sua casa e terá gasto muito mais proveitosamente seu dinheiro.



NOTA: 2/5

quinta-feira, 15 de março de 2012

John Carter - Entre Dois Mundos

Título: John Carter - Entre Dois Mundos
Título Original: John Carter
Direção: Andrew Stanton
Roteiro: Andrew Stanton, Mark Andrews e Michael Chabon
Gênero: Fantasia
Duração: 132 Minutos













Mais um diretor que sai das animações dos estúdios Pixar para os Live action, Andrew Stanton mostra mais uma vez com sua grande perícia o tipo de talento que o estúdio tem em mãos. Trabalhando pela primeira vez com atores reais, o diretor não se mostra acanhado e consegue deslumbrar visualmente o espectador em sua nova empreitada, mas decepciona os conhecedores de seu talento ao não trazer o talento de escrita que demonstrou em "Wall-E".

O roteiro traz a história de John Carter (Taylor Kitsch), um veterano de guerra que para não voltar ao campo de batalha e não ser morto por uma tribo indígena, foge para as montanhas (hihi) até chegar em uma caverna onde encontra um misterioso homem que traz consigo um igualmente misterioso objeto que o transporta para um estranho local. Lá, Carter encontra um estranho povo nativo liderado por Tars Tarkas (Willem Dafoe) que vive no meio de uma guerra entre dois povos. Fugindo do casamento forçado que seu pai, Rei de um dos povos em guerra, quer impor para tentar uma trégua, a bela princesa Dejah Thoris (Lynn Collins) encontra com o perdido John Carter, que vai entrar no meio de uma guerra entre dois povos para ser o salvador que a princesa tanto precisa.

Tendo em mãos o potencial de uma épica história fantástica, os escritores decepcionam ao sabotar o próprio projeto pesando a mão "Disneyland" em seu roteiro. Muitos defendem a visão de que sua clichê história não deve ser julgada, pois o livro no qual a obra é baseada foi escrito bem antes de todas as outras que levaram o tema "mocinho que adota o lado da guerra do povo estranho por causa de um par de peitos" à exaustão, mas um filme deve funcionar independente de seu material original e, no meio de todos os outros exemplos que transformaram tal argumento em clichê, o roteiro se perde, tornando-se enfadonho, sem graça e apresentando a originalidade de um espelho.

Trabalhando com uma história bobinha e melodramática, o texto além de conter furos estranhos ( a utilização da frase "a sensação de deixar uma luz acesa ou uma porta aberta" sendo utilizada por um personagem vindo do ano de 1880 e alguma coisa e o fato de John Carter assassinar uma entidade divina IMORTAL com um tiro ganham destaque) também força o expectador a acreditar que um líder de uma nação nativa ajudaria seu antigo prisioneiro a combater uma guerra que, em uma época anterior, seu povo preferia não se envolver por questões de segurança, apenas para que esse pudesse ganhar o coração (e todo o resto) de sua desejada.

Tudo no filme parece forçado e artificial. Mesmo com o trabalho individual seguro dos atores, a tensão amorosa entre Carter e Thoris nunca funciona, descambando mais tarde para um melodrama inacreditável que chega a dar náuseas até mesmo ao expectador de estômago mais forte. Grande parte desse problema reside na falta de química entre os atores que em determinadas partes parecem que, mesmo se odiando, foram forçados a trabalhar juntos formando um par romântico, mas as mãos descuidadas dos roteiristas também se fazem sentir em cada diálogo desnecessariamente "amoroso".

O talento de Stanton chega pra salvar (MESMO) a película do desastre completo. Mesmo começando de maneira fraca ao não conseguir implantar um tom Western interessante no começo do filme - mesmo com a divertida escolha de montagem na sequência em que o protagonista se encontra prisioneiro do "Tio Sam" - o diretor utiliza bem os belos recursos visuais (falhos em alguns momentos, devo admitir) que possui para criar cenas divertidas e empolgantes, como as cenas da batalha na arena e a emboscada no deserto, que mostram a habilidade de Andrew e seguram por alguns instantes a atenção e a respiração de qualquer um. Além disso o tom de humor do filme é muito bem trabalhado, fazendo com que todas as piadas e gags funcionem muito bem, não caindo no constrangedor e trazendo algo de bom para uma problemática produção.

Sendo um filme Disney de Ação/Fantasia, "John Carter - Entre Dois Mundos" com certeza decepciona por seus problemas de roteiro e tom, mas consegue divertir com algumas de suas empolgantes cenas de ação e sua execução visual deslumbrante. Mesmo assim fica o gosto do desperdício de um interessante e bonito mundo e de um potencial para um filme ÉPICO.

P.S¹: Obrigado Disney por trazer uma musa verdadeiramente GOSTOSA e não as magrelas com as quais estamos habituados a aturar.

P.S²: O 3D do filme é bom, mas só é realmente bem percebido no belo travelling que inicia a projeção.


NOTA: 3/5

quinta-feira, 8 de março de 2012

Anjos da Noite 4 - O Despertar

Título: Anjos da Noite 4 - O Despertar
Título Original: Underworld: Awakening
Diretor: Mans Marlind e Bjorn Stein
Roteiro: Len Wiseman, John Hlavin, J.Michael Straczynski e Allison Burnett
Gênero: Ação/Terror
Duração: 88 Minutos













Você pega a Kate Beckinsale, coloca ela em uma roupa de couro, arma na mão e sendo uma vampira. Junta tudo isso com mais vampiros e adiciona lobisomens. Adicione uma guerra entre lobisomens e vampiros. Adicione a mesma Kate Beckinsale atirando em tudo e todos que entram em sua frente. Não tem como sair algo ruim, certo? Errado! Jogue tudo isso no colo de diretores e roteiristas incompetentes e você verá todo esse mundo bonito, maravilhoso e sangrento afundar como um pequeno e indefeso barco de madeira ao se chocar contra uma pedra.

O texto escrito por nada mais, nada menos que 5 roteiristas (sempre um "Red Alert" cinematográfico) traz de volta a vampira caçadora Selene (Kate Beckinsale). Os humanos descobriram que outras espécies moram entre eles e decidiram por caçar e expurgá-los. No meio disso, Selene tenta fugir com seu amor, um híbrido caçado pelos Lycans. No meio da fuga os dois são capturados e levados para o laboratório de uma corporação. Selene é misteriosamente libertada e corre atrás para saber onde está, qual o motivo de ter ido parar ali e quem a libertou.

É agoniante saber que 5 mãos escreveram esse filme. A história é praticamente inexistente e o que existe é completamente confuso. Nunca sabemos se o filme se trata da busca da protagonista, do expurgo das raças, da contínua guerra entre Lycans e Vampiros ou da "reviravolta" que acontece logo em seu começo. Perdido em sua própria história, o roteiro é claramente uma simples desculpa para uma punhetagem visual inacreditável, que nem mesmo é competente para cobrir as falhas do script. Recheado de diálogos risíveis que beiram o patético, o texto ainda escracha a preguiça e falta de cuidado de seus escritores ao apresentar o policial Kolb (Jacob Blair) como parceiro inexperiente e incômodo do detetive Sebastian (Michael Ealy) que, sem explicações ou qualquer tipo de preocupação, some da projeção de forma abrupta, como se os roteiristas tivessem simplesmente se esquecido que criaram aquele personagem algum dia.

Ainda no quesito personagens somos apresentados à menina Eve (India Eisley) que deveria apresentar algum tipo de importância a trama, mas sua história nunca é realmente explicada, sua importância nunca realmente mostrada e a personagem é rasa como uma piscina infantil, deixando em cena apenas mais um rostinho bonito de enfeite.

Tendo em mãos um roteiro tão problemático e rasteiro, os diretores não se esforçam nem um pouco para melhorar as coisas. Trabalhando com o visual "over" e fora de tom de todo o filme - desde figurinos a interiores - que já é característico da série, Marlind e Stein apresentam sempre cenas de ação sem graça, apostando na violência e sanguinolência de suas sequências que não funcionam em momento algum, chegando a constranger o espectador já que criar cenas divertidas e empolgantes envolvendo uma gostosa e alguns lobos e vampiros deveria ser obrigação de qualquer diretor que ousa lançar um filme. Essa escolha pelo gore poderia ser vista como corajosa, mas ao vermos como os diretores conduzem o filme, logo percebemos que servem como metáfora para os clássicos adolescentes "Macho Alfa". Explico: a câmera sempre procura pelos ângulos mais "reveladores" de Beckinsale e sua apertada e maravilhosa roupa de couro, mostrando seus seios ou bunda em close sempre que uma pose mais elástica os realça, mas quando temos a protagonista nua, toda a coragem desaparece instantaneamente e em vez de uma cena épica que salvaria parte da projeção, somos agraciados pelos braços da atriz cobrindo seus dotes e truques de câmeras para esconder os corpo desnudo da mesma.

Piorando um pouco mais as coisas temos um elenco ímpar. Todos parecem ter saído de uma câmara de congelamento facial exibindo uma inexpressividade torturante durante todos os longos 90 minutos de filme. A única que consegue sair desse estado é Beckinsale que consegue alternar entre a inexpressividade e a velha tática de qualquer vestibulando ou aluno de ensino médio ao encarar uma prova de múltipla escolha: utilizando uma cara de assustada/surpresa em toda a projeção, a atriz acaba por acertar em alguns momentos, fazendo com que sua quase careta combine com a cena e situação na qual se encontra, tornando tudo um pouco menos patético.

Mesmo assim esse filme me fez pensar e chegar a duas certeiras conclusões:

1) Logo algum programa de filmes da madrugada de um canal aberto se deliciará com toda a franquia Anjos da Noite.

2) Toda a franquia deveria seguir seu nome original e se jogar no submundo das produções Hollywoodianas.


NOTA: 1.5/5

Poder Sem Limites

Título: Poder Sem Limites
Título Original: Chronicle
Direção: Josh Trank
Roteiro: Josh Trank, Max Landis
Gênero: Ação
Duração: 84 Minutos














Temos aqui mais um produto da onda "found footage" que toma conta das produções recentes, mas que, ao contrário de muitos, se utiliza bem do estilo e acaba dando uma roupagem nova e interessante para os filmes de heróis. Triste é constatar que o mesmo artifício que deixa tudo divertido, diferente e agradável, é também o que quase afunda o filme quando o diretor perde a mão e não consegue controlar o estilo que escolheu para seu projeto.

O filme acompanha a história de três adolescentes que no meio de uma festa encontram um estranho buraco em uma floresta e resolvem investigar. Sempre com sua câmera na mão, o jovem Andrew Detmer (Dane DeHaan), junto com seu primo Matt Garetty (Alex Russell) e seu colega de escola Steve Montgomery (Michael B. Jordan) entra na misteriosa cratera para investigar seu conteúdo. Registrando tudo a partir dali, os jovens encontram um estranho e barulhento objeto que provoca estranha reações físicas e acaba por dar super poderes aos três garotos. Tudo corre bem até que o acontecido sobe à cabeça de um deles provocando terríveis consequências.

Os maiores acertos do filme consistem em sua construção e seus personagens. O roteiro acerta ao retratar o trio como o que realmente são (adolescentes inconsequentes), adotando um certo tom de comédia e apresentando cenas extremamente divertidas envolvendo a relação entre os personagens que falarei mais à frente. Aparentemente sabotando tudo que possui de melhor, a película acaba por pecar ao adicionar a personagem Casey vivida por Ashley Hinshaw que não apresenta nenhum tipo de importância para a trama, servindo apenas como tripé de uma outra câmera que mostra apenas seu rostinho bonito e uma história romântica sem química, graça ou qualquer tipo de necessidade.

Quando foca em seus personagens principais, o projeto ganha muita força. Trabalhando com a clássica máxima de que "com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades", o filme é completinho em formar seu vilão. Está tudo lá: a motivação, os problemas emocionais, os problemas dentro de casa, a rejeição, o "bullying" escolar e o gatilho que é puxado para que tudo desmorone de vez na atormentada mente do jovem, que deixa que o poder o consuma e sua vingança e descontrole venham à tona. Junto disso caminha Matt, que é o mais descartável dos três mas, quando junto de Andrew, se torna importante, servindo como uma tentativa de força moderadora e controladora ao se impor diante do descontrole do amigo. Por último temos o estereótipo clássico do boa pinta do High School: Steve é popular, divertido, extrovertido e de uma eloquência ímpar que, com a boa atuação de Jordan (assim como a de todo elenco), se transforma no melhor personagem do filme usado inteligentemente como ponto de transição do tom do filme.

Entre acertos e erros, o diretor Josh Trank até faz um bom trabalho se tirarmos uma média. Fazendo a escolha acertada de trabalhar com um "found footage", Trank cria a desculpa perfeita para mostrar as cenas mais divertidas do filme que mostram a interação entre os jovens que descobrindo as maravilhas de seus poderes, passam a brincar e usá-los para pura e simples diversão, levando junto de si o espectador. Evoluindo corretamente o filme com um belo ritmo, o diretor passa por todas as situações com firmeza, levando sua obra ao competente clímax de forma divertida e tensa, sempre alternando o tom para que a tensão e a agonia não seja recebida mais à frente como um soco no estômago de quem está assistindo quando o filme descamba de vez para um clima tenso e sufocante.

Com tudo isso é triste ver o diretor quase sabotar o próprio filme ao não manter durante toda a projeção. Além da adição desnecessária da câmera portada pelo interesse romântico de Matt, Trank em alguns momentos mostra algumas situações em que se é muito difícil de acreditar que alguém realmente levaria uma câmera para registar tudo aquilo tanto por falta de necessidade, quanto por ser extremamente não prático dentro da situação que o personagem se encontra. Somando a isso, o diretor parece se esquecer que está fazendo um filme "found footage" e filma cenas que acontecem sem nenhum tipo de "câmera amadora" filmando ou até mesmo por perto, apresentando um grande furo no estilo que escolheu adotar.

No fim, Poder sem Limites é como a adolescência: divertido, um pouco problemático e despretensioso, mas com erros maiores que quase colocam tudo a perder.


NOTA: 3.5/5

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Motoqueiro Fantasma - Espírito de Vingança

Título: Motoqueiro Fantasma - Espírito de Vingança
Título Original: Ghost Rider: Spirit of Vengeance
Direção: Mark Neveldine e Bryan Taylor 
Roteiro: Scott M. Gimple, Seth Hoffman, David S. Goyer
Gênero: Ação
Duração: 95 Minutos














Nicolas Cage e o primeiro "Ghost Rider" possuem semelhanças: ambos são extremamente criticados, alguns chegam a odiá-los e na grande maioria das vezes são motivo de chacota. Já aqui nesse novo exemplar do badass motoqueiro de cabeça flamejante a relação é muito mais harmoniosa, acertada e gostosa: O filme ajuda Nicolas Cage e Nicolas Cage ajuda o filme. O ator certo, no filme certo e com a direção certa. Mas nem tudo são flores...

A história é simples: nosso querido Diabo (Ciarán Hinds) precisa por as mãos em Danny (Fergus Riordan), filho de Nadya (Violante Placido) concebido através de um pacto feito pela mãe.Visando proteger o garoto, Moreau (Idris Elba) pede a ajuda do amaldiçoado motoqueiro Johnny Blaze (Nicolas Cage) para transportar o menino até um lugar sagrado e seguro e em troca, o libertaria de sua maldição.

Mesmo com um roteiro genérico usado como desculpa para se por em prática as doideiras dos dois diretores, o filme acaba tendo problemas. Furos podem ser engolidos nesse tipo de produção, mas quando passam a beirar o ridículo incomodam. Provando o desleixo dos (TRÊS) escritores, vemos uma cena em que Blaze - possuído por sua maldição - é atingido por um lança granadas e levado inconsciente para um hospital. Mais a frente em uma outra cena, o motoqueiro é atingido por nada menos que um JAVELIM e simplesmente se levanta e anda como se nada tivesse acontecido.

Mesmo assim o filme possui acertos: o tom insano e sarcástico que o filme (mais particularmente seu protagonista) recebe é uma escolha correta que combina com a trama além de sustentar o terreno para seus diretores usarem e abusarem de seus já conhecidos artifícios ("Adrenalina" e "Gamer"). O estilo de direção trazido para esse projeto é uma faca de dois gumes: é um dos grandes diferenciais e qualidade do filme, mas é também onde o mesmo se afunda.

Conhecidos por sua direção frenética e maluca, Neveldine e Taylor usam e abusam de todos os seus recursos, acabando por pecar pelo exagero. Esses exageros visuais e estéticos que funcionam em outros de seus filmes, aqui parecem forçados e foram de tom e por mais impossível que pareça, não parecem orgânicos ao filme. Além de toda pirotecnia e acrobacias que beiram a megalomania (Cage suspenso e rodando violentamente no ar é de uma falta de noção e diversão inacreditável), o que mais incomoda são o abuso de artifícios como Flares (J.J Abrams mandou um abraço) e até mesmo "Dutch Angles" como apenas motivo estético desnecessário, sem acrescentar absolutamente nada a trama. Mas dessa direção diferenciada vem o outro grande ponto do filme: atuação de Nicolas Cage.

Não, ele não está dramaticamente perfeito e foi uma injustiça não indicá-lo ao Oscar, mas quando se faz necessário, o ator tira de seu grande leque seus melhores berros e expressões, chegando a assustar. Utilizar o corpo do ator para a captura de movimentos do motoqueiro foi uma bela ideia: dancinhas e gingadas protagonizadas pelo icônico ator divertem qualquer olho que esteja presenciando tal cena. Se isso não fosse suficiente, como um atormentado Johnny Blaze, Cage berra, se sacode, faz caras e bocas e demonstra uma insanidade digna de um usuário de cocaína e faz sua parceria com os diretores ter sido um dos grandes acertos da Marvel. Com tudo isso, os outros atores que trabalham na projeção passam completamente desapercebidos. Nenhum deles faz um trabalho que mereça destaque - sempre se mantendo na mediocridade - mas também nenhum deles merece o Framboesa de Ouro por suas participações.

No fim, Motoqueiro Fantasma - Espírito de Vingança é como a maldição de seu protagonista: apresenta grandes problemas ao seu espectador, mas diverte em pontuais momentos de sua viagem.

NOTA: 2.5/5

sábado, 18 de fevereiro de 2012

A Invenção de Hugo Cabret

Título: A Invenção de Hugo Cabret
Título Original: Hugo
Direção: Martin Scorsese
Roteiro: John Logan
Gênero: Aventura / Drama
Duração: 126 Minutos














Scorsese filmando em 3D. Scorsese comandando um projeto família que beira o infantil. Talvez o choque seja grande, mas a firmeza e qualidade técnica com a qual o diretor conduz todo o projeto mostra que o Deus vivo do cinema não é facilmente intimidado e deixa clara toda a sua flexibilidade. Pena é que o roteiro não acompanha o ritmo e se perde no meio de duas intenções que acabam não se igualando em qualidade.

O texto adaptado por John Logan a partir do livro "The Invention of Hugo Cabret" conta a história de Hugo Cabret (Asa Butterfield), um órfão que ao perder seu pai (Jude Law) vai morar com seu tio, um bronco bêbado que vive no relógio de uma estação de trem mantendo o mesmo em funcionamento. Os dias de Hugo se resumem em não ser pego e enviado para um orfanato pelo inspetor da estação (Sacha Baron Cohen) enquanto busca peças para tentar consertar um autômato abandonado achado por seu pai em um museu. Em uma de suas buscas, Hugo é pego tentando roubar peças  de uma loja de brinquedos da estação cujo o dono (Ben Kingsley) esconde uma passado que, após conhecer sua sobrinha (Chloë Grace Moretz), Hugo entrará em uma pequena aventura para descobrir.

Forçando um melodrama completamente desnecessário, o roteiro executa rasteiramente todo o drama do protagonista, apelando sempre para situações e diálogos que se esforçam para tirar lágrimas do espectador, mas que sempre soam artificiais e forçados, tirando a chance de que nos emocionemos com as situações apresentadas. Além disso o texto possui problemas com alguns de seus personagens: Isabelle muitas vezes é forçada em suas referências literárias e, principalmente, tentativas de usar um vocabulário mais rebuscado, raramente  provocando risos e o Bibliotecário Monsieur Labisse (Christopher Lee) é jogado, sem profundidade e praticamente nada acrescenta na trama.

Para ajudar o problemático roteiro, Scorsese tem em mãos um bom e seguro elenco que consegue se apresentar - quase por completo - competentemente durante todo o filme. Sim, quase por completo, pois no meio de um sempre monstruoso Ben Kingsley que encarna muito bem seu personagem como um sujeito frustrado e amargo, mas sempre deixando transparecer a tristeza que o consome; uma bela Chloë Moretz muito a vontade (mesmo que o roteiro tente sabotar a personagem) vivendo uma menina agitada, empolgada e sempre fascinada pelas aventuras que passa horas devorando e um Cohen impressionantemente contido e suficientemente engraçado funcionando como alívio cômico, temos Asa Butterfield como um "líder" extremamente problemático.

O menino conduz seu personagem de uma forma extremamente robótica e desconfortável, sendo inexpressivo em boa parte da película e prejudicando ainda mais o melodrama excessivo que se tenta passar, deixando tudo um pouco pior. A coisa se agrava quando ele é posto para interpretar ao lado de Moretz que com seu talento e extremo carisma, acaba por engolir o pobre garoto em cena.

Mas nem tudo é desgraça: Quando passamos para sua verdadeira essência, o filme ganha grande força e poder emocional. Uma bela homenagem ao cinema é mostrada, contando um pouco de sua história, seu começo e apresentando uma defesa ao cinema clássico, uma apelo à necessidade de se cultuar, assistir e preservar os filmes que ficaram pra traz, esquecidos. Justamente evitar esse esquecimento e mostrar a importância de cada projeto não só para seu realizador, mas também para amantes e para a história do cinema. E nada mais justo que um mestre como Scorsese tomar as rédeas de tal projeto.

Scorsese esse que se utiliza maravilhosamente bem do 3D. Esteticamente o filme é lindo. Momentos de vertigem em algumas tomadas aéreas, uma estação de trem nunca tão belamente filmada se utilizando da fumaceira característica para criar uma bela "paisagem" e até mesmo momentos de brincadeiras com o 3D aproximando o rosto dos atores ou enquadrando-os de forma diferente. Sem dúvida alguma um dos melhores exemplares que já foram exibidos e um que vale a pena cada centavo.

Mesmo que peque com sua ingênua e boba história, o filme se beneficia de uma emocionante homenagem ao cinema e seus realizadores e de uma beleza técnica inacreditável, se tornando um projeto gostoso e que merece ser contemplado.

NOTA: 3.5/5